
Ele era conhecido na agência como o “gênio do caos”. 🌪️
Suas ideias nas reuniões de brainstorming eram brilhantes, disruptivas. Ele conectava conceitos que ninguém mais via, desenhando o futuro da campanha num guardanapo com uma energia contagiante. Era capaz de passar 8 horas seguidas, sem nem ver o tempo passar, mergulhado em um novo projeto que o fascinava – o chamado hiperfoco.
Mas o dia a dia era seu campo de batalha. Sua mesa parecia um ecossistema próprio de xícaras de café, livros abertos pela metade e post-its com ideias geniais que logo se perdiam. Começava a responder um e-mail, mas no meio do caminho abria uma aba para pesquisar algo que o e-mail mencionou, o que o levava a um vídeo interessante, e 40 minutos depois, o e-mail original continuava lá, por escrever. Prazos eram inimigos mortais, não por falta de capacidade, mas porque o “urgente” sempre parecia mais interessante do que o “importante”.
Para os chefes, ele era um talento frustrante. Para os colegas, um colega pouco confiável. Para si mesmo, ele era a grande decepção. “Por que eu não consigo simplesmente fazer o que precisa ser feito?”, ele se perguntava. “Sou preguiçoso? Indisciplinado?”. A autoacusação era sua companheira constante.
A reviravolta aconteceu não em uma terapia, mas assistindo a uma série de comédia. Um personagem, descrito como tendo TDAH, perdeu as chaves do carro pela terceira vez no mesmo episódio. Ele riu, mas o riso congelou. O personagem também era criativo, impulsivo e vivia num caos organizado. Pela primeira vez, ele pesquisou “TDAH em adultos”.
Cada sintoma que lia parecia um espelho. A dificuldade em manter o foco em tarefas chatas, a impulsividade, a facilidade em se distrair, a montanha-russa emocional. Naquele momento, uma vida inteira de auto julgamento começou a ruir. Não era uma falha de caráter. Era a fiação de um cérebro diferente.
O que é o TDAH, Afinal?
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição do neurodesenvolvimento, o que significa que se origina de diferenças na forma como o cérebro se desenvolve e funciona. Não é uma doença, preguiça, falta de disciplina ou uma falha de caráter. É uma maneira diferente de ser e de processar o mundo.
Segundo o DSM-5-TR, sua característica principal é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento da pessoa.
Os Dois Pilares do TDAH: Desatenção e Hiperatividade
É crucial entender que o TDAH se manifesta em um espectro, mas seus sintomas se agrupam em duas categorias principais:
1. Desatenção: Não se trata de não prestar atenção, mas sim de uma dificuldade em regular a atenção. A mente de quem tem TDAH é frequentemente descrita como um “navegador com 50 abas abertas ao mesmo tempo”. Os sintomas incluem:
- Cometer erros por descuido em tarefas.
- Dificuldade em manter o foco em conversas, leituras ou tarefas longas.
- Parecer “não ouvir” quando alguém fala diretamente.
- Começar tarefas e não terminá-las.
- Dificuldade extrema com organização e gestão do tempo.
- Perder objetos com frequência (chaves, celular, carteira).
- Ser facilmente distraído por estímulos externos.
- Esquecer-se de compromissos e tarefas diárias.
2. Hiperatividade-Impulsividade: A hiperatividade não é apenas a criança que “não para quieta”. Em adultos, muitas vezes ela é internalizada.
- Hiperatividade: Inquietação constante (balançar as pernas, mexer as mãos), sentir-se “ligado no 220”, falar excessivamente e dificuldade em ficar parado em situações que exigem isso.
- Impulsividade: Agir sem pensar nas consequências, interromper os outros com frequência, ter dificuldade em esperar a sua vez e tomar decisões precipitadas.
Os Três “Sabores” do TDAH
Um dos maiores mitos é que toda pessoa com TDAH é hiperativa. Na verdade, existem três apresentações (ou tipos) principais:
- Apresentação Predominantemente Desatenta: A pessoa apresenta majoritariamente os sintomas de desatenção. É mais comum em mulheres e meninas, e por ser menos “barulhento” que a hiperatividade, muitas vezes passa despercebido por anos, sendo diagnosticado tardiamente como ansiedade ou depressão.
- Apresentação Predominantemente Hiperativa-Impulsiva: A pessoa exibe principalmente os sintomas de hiperatividade e impulsividade. É o estereótipo mais conhecido.
- Apresentação Combinada: A pessoa apresenta uma mistura significativa de sintomas de ambas as categorias.
De Inimiga a Aliada: Fazendo as Pazes com a Mente TDAH
Nossa cultura nos ensina a lutar contra a distração, a forçar o foco, a punir a procrastinação. Para quem tem TDAH, essa é uma receita para a frustração e a exaustão. Mas e se o caminho fosse outro?
Na minha abordagem com a Hipnose Generativa, o convite é para transformar a sua relação com a sua mente. Em vez de brigar com a distração, que tal perguntar: “O que de tão interessante está me chamando a atenção?”. Em vez de se culpar pelo hiperfoco, que tal aprender a direcioná-lo como um superpoder?
A transformação não vem de tentar transformar um cérebro TDAH em um cérebro “normal”, mas de aprender a surfar nas ondas da sua própria neurologia. É sobre acolher a mente criativa e caótica, entendendo seus ritmos e aprendendo a dançar com eles, em vez de tentar silenciar a música. É fazer as pazes com o gênio das mil abas abertas. 💚
Um Lembrete Importante… 🤗
Este artigo oferece uma visão geral para iluminar e educar. Ele não serve como diagnóstico. O diagnóstico de TDAH é um processo complexo que deve ser conduzido por profissionais qualificados (como psiquiatras, neurologistas e psicólogos). Se você se identificou fortemente com o que foi descrito, o passo mais gentil e eficaz por si mesmo é buscar uma avaliação profissional. Combinado? 😉👍