
Você se identifica com esta situação? Um comentário simples de alguém te tira completamente do sério. Uma pequena e insignificante mudança de planos dispara uma onda de ansiedade. Um tom de voz específico te faz sentir mal, rejeitado ou inseguro, de forma quase instantânea.
A parte lógica da sua mente entra em ação imediatamente, tentando te acalmar: “Não é pra tanto”, “Você está exagerando”, “Respira fundo”. Mas é tarde demais. A emoção é como um tsunami que já te atropelou, a reação já aconteceu, e você fica com aquela sensação amarga de estar no controle de tudo na sua vida, menos de si mesmo.
Se essa luta interna é familiar para você, eu te convido a considerar uma perspectiva transformadora: essa reação desproporcional, muito provavelmente, não tem nada a ver com a situação atual.
O Alarme de Incêndio da Sua Mente
Imagine que a sua mente emocional é uma casa. Em algum momento da sua vida, muito provavelmente na infância, uma “ferida” foi criada. Essa ferida pode ter sido uma sensação de abandono, a percepção de não ser bom o suficiente, ou um momento de profunda insegurança. E essa experiência, que talvez sua mente consciente nem lembre mais, instalou um alarme de incêndio ultra sensível na sua casa interna.
O que acontece hoje? Qualquer evento no presente que tenha a mínima semelhança com a situação original – a “fumacinha de uma torrada queimada” – faz com que esse alarme dispare com a mesma intensidade de um incêndio real.
É por isso que o conflito interno é tão grande. O adulto que você é hoje olha para a situação lógica – a “torrada queimada” – e não entende o motivo de tanto pânico, de se sentir tão mal por algo tão pequeno. Mas o seu sistema nervoso, a sua criança interior, não está vendo uma torrada. Ela está revivendo o perigo original em toda a sua intensidade, e aciona todos os recursos para te salvar.
A Solução: Atualizar o Sistema, Não Lutar Contra Ele
Nossa primeira reação é tentar arrancar o alarme. Ficamos com raiva de nós mesmos, nos culpamos pela “sensibilidade excessiva” e tentamos suprimir a emoção. Mas isso só piora a situação, pois confirma para a nossa criança interior que sentir é errado e perigoso.
O verdadeiro trabalho da transformação emocional não é arrancar o alarme. É ir até ele com segurança e, finalmente, atualizar o sistema.
Isso significa, através de um processo de autoconexão, mostrar para essa parte assustada que hoje você tem recursos que não tinha na infância. É validar o medo dela e, ao mesmo tempo, apresentar a realidade atual: que a casa é segura, que você, o adulto, está no comando, e que a fumaça da torrada é só fumaça de torrada.
É assim que, passo a passo, nós recuperamos o controle das nossas reações. Deixamos de ser reféns de um passado que nem lembramos mais para nos tornarmos os autores conscientes da nossa vida presente.