
Você conhece bem esse ciclo? Primeiro vem o planejamento. Você se organiza, cria listas, define metas e sente aquela onda de motivação. Você sabe exatamente o que precisa ser feito. Mas na hora de agir, algo trava. O projeto não sai do papel, a decisão é adiada, o primeiro passo nunca é dado. E então, inevitavelmente, vêm os sentimentos de sempre: a culpa, a frustração e aquela pergunta dolorosa que ecoa na mente: “O que tem de errado comigo?”
Essa é a voz da autossabotagem, uma força que parece nos perseguir e minar nosso potencial. Lutamos contra ela com mais disciplina, mais cobrança, mais crítica. E, na maioria das vezes, perdemos a batalha, ficando ainda mais exaustos e convencidos de que temos um defeito de caráter.
Mas e se a resposta para “O que tem de errado comigo?” fosse, na verdade: “Nada”? E se essa força que te paralisa não for um inimigo a ser combatido, mas sim um antigo e distorcido ato de amor?
O Excesso de Proteção: A Origem da Trava
A verdade surpreendente é que a autossabotagem, em sua raiz, não é um defeito. É um excesso de proteção.
Essa força que trava é a sua criança interior. Assustada. Operando com as únicas ferramentas que ela conhece para te proteger de uma dor que, em algum momento do passado, foi muito real. Seja o medo do fracasso, o pavor da rejeição ou a angústia de não ser bom o suficiente, essa parte sua aprendeu que a inércia era mais segura do que a ação. Não agir se tornou a melhor estratégia para não sofrer.
O problema é que essa criança não percebeu que você cresceu. Ela continua ativando o mesmo alarme de perigo, sem saber que hoje, o adulto que você é, já possui novos recursos para lidar com os desafios.
A História que Destravou uma Vida
Atendi* uma pessoa brilhante com o sonho de fazer um mestrado no exterior. Era a oportunidade da vida dela, mas tudo parecia dar errado. A documentação se enrolava, a comunicação com a universidade falhava, os prazos se esgotavam. Era um caso clássico de autossabotagem.
Em vez de lutar contra essa “força”, fomos conversar com ela. E o que descobrimos? A criança interior dela estava apavorada, não com o fracasso, mas com o medo de “abandonar” sua avó, uma figura de imenso amor e segurança. A trava era um ato de amor e lealdade.
No momento em que ela entendeu e acolheu essa mensagem, tudo mudou. Ela pôde dizer a essa parte sua: “Eu entendo seu medo, e sou grato por seu cuidado. Agora, vamos encontrar uma forma de ir e, ao mesmo tempo, ficarmos perto dela”. Em pouquíssimo tempo, os obstáculos se dissolveram e ela embarcou, mantendo uma relação ainda mais próxima com a avó através da tecnologia.
O Caminho é Acolher, não Lutar
A verdadeira transformação não está em lutar contra a autossabotagem, mas em acolher essa parte sua e entender o que ela quer dizer. É parar de brigar e começar a escutar. É virar-se para dentro e perguntar com compaixão: “Do que você está com medo? O que você precisa para se sentir seguro para avançar?”.
Essa mudança de postura desarma a guerra interna e abre espaço para uma nova aliança, onde o adulto que você é pode, finalmente, atualizar as estratégias da sua criança interior, mostrando a ela que agora é seguro crescer e ousar.
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*Além de ter sido autorizada a publicação, alguns dados e fatos foram mudados para não identificar a pessoa.