
Qual é aquele seu “defeito” que mais te incomoda? Aquela característica que você encara como um inimigo interno em uma batalha que parece não ter fim?
Talvez seja o perfeccionismo implacável, que te esgota e nunca te deixa celebrar suas próprias conquistas. Talvez seja a necessidade de agradar a todos, que te leva a engolir sapos e a se anular constantemente. Ou, quem sabe, seja uma certa frieza emocional, uma dificuldade de se conectar profundamente com as pessoas, que te deixa com uma sensação de solidão mesmo quando está acompanhado.
A gente costuma gastar uma energia enorme nessa guerra. Tentamos nos consertar, nos policiar, nos livrar daquilo que acreditamos estar quebrado em nós. É uma luta exaustiva e, na maioria das vezes, frustrante.
Mas e se eu te propusesse uma trégua? E se, por um momento, olhássemos para esse “pior defeito” não como um erro, mas como a atitude mais genial e criativa que você já teve na vida?
O “Defeito” como uma Solução Brilhante
Nenhum de nós nasce com um “defeito de fabricação”. Nossos comportamentos mais arraigados não são falhas de caráter, mas sim estratégias de sobrevivência que nossa mente infantil, com sua imensa criatividade, desenvolveu para nos proteger de dores em um ambiente específico.
Pense nisso:
- O Perfeccionismo: A criança que só recebia elogios e afeto quando alcançava a excelência (um 10 na prova, um comportamento impecável) aprende rapidamente que a perfeição é a moeda de troca para o amor e a segurança. O perfeccionismo não é um defeito; ele se torna sua melhor e mais lógica ferramenta para garantir um lugar no mundo.
- Agradar a Todos: A criança que cresceu em um lar volátil, com brigas e discussões assustadoras, aprende que evitar conflitos a qualquer custo é a única maneira de manter a paz. Ela se torna uma especialista em harmonia, uma diplomata mirim que sacrifica as próprias vontades para garantir a segurança do ambiente. É uma estratégia de sobrevivência, não uma fraqueza.
- A Frieza Emocional: A criança que, em um momento de dor, medo ou tristeza, não se sentiu acolhida, aprende que sentir é perigoso. Para não sofrer novamente, ela se desconecta das próprias emoções. A “frieza” vira uma armadura, uma solução inteligente para se proteger de um mundo que parece não saber lidar com seus sentimentos.
Atualizando a Estratégia: O Diálogo que Transforma
O seu “pior defeito” foi, em algum momento, a sua melhor solução. Ele foi a sua tentativa mais engenhosa, com os recursos que você tinha na infância, de se proteger. O problema não é ele, mas o fato de que ele continua operando em modo automático na sua vida adulta, onde o cenário é outro.
O trabalho da transformação não é declarar guerra a essa parte sua. É um caminho de reconciliação. É poder olhar para esse comportamento com respeito e iniciar um diálogo interno:
“Eu vejo você. Eu entendo que você faz parte de mim. Obrigado por ter me protegido por tanto tempo e com tanta dedicação. Agora, quero que saiba que sua missão foi cumprida com sucesso. Eu cresci, e hoje tenho novas e melhores formas de conseguir segurança e amor.”
Ao fazer isso, você não está apagando sua história, muito menos brigando com um pedaço seu. Você está, com compaixão e maturidade, atualizando a sua estratégia.
Que tal experimentar olhar para o seu “defeito” hoje não com crítica, mas com uma nova curiosidade? Essa pode ser a porta de entrada para uma profunda transformação e autoaceitação.