Pólio vs. AVC: A Incrível História de Cura que Conectou Mestre e Discípulo

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Pólio vs. AVC: A Incrível História de Cura que Conectou Mestre e Discípulo

Para entender a notável jornada de reabilitação de Ernest Rossi, é preciso primeiro conhecer a história de seu mentor, o homem que revolucionou a psicoterapia moderna: Milton H. Erickson. A genialidade de Erickson não nasceu em uma sala de aula, mas foi forjada no fogo de uma provação neurológica devastadora.

Aos 17 anos, Erickson foi atingido pela poliomielite de forma tão avassaladora que os médicos deram-lhe uma sentença de morte, acreditando que ele não sobreviveria à noite. Ele sobreviveu, mas acordou em um corpo transformado em uma prisão, quase totalmente paralisado, capaz de mover apenas os olhos. Confinado a uma cama, em vez de se render ao desespero, Erickson transformou sua condição em um laboratório pessoal. Ele começou um processo intenso de auto-observação, focando no que chamou de “memórias corporais” — lembranças vívidas e cinestésicas de como seus músculos se moviam antes da doença. Era uma forma intuitiva de auto-hipnose, um ensaio mental que reativava as vias neurais adormecidas. Ele observou sua irmã bebê aprender a andar, reaprendendo os fundamentos do movimento. Essa luta implacável não apenas o permitiu andar novamente (com o auxílio de uma bengala), mas também moldou sua filosofia: a de que a mente inconsciente é um vasto reservatório de recursos para a cura, e que cada desafio pode ser “utilizado” como uma ferramenta para a mudança.

Décadas mais tarde, essa filosofia se tornaria a âncora para um de seus mais proeminentes alunos, Ernest Rossi.

Para Rossi, o AVC não foi um conceito teórico, mas uma súbita e brutal realidade. De um dia para o outro, ele se viu lutando contra uma lentidão paralisante, rigidez nos membros, uma fala arrastada e uma caligrafia que havia encolhido para um tamanho quase ilegível. Suas emoções, agora descontroladas, o levavam a crises de choro e riso sem aviso, uma condição típica, mas profundamente desorientadora, do pós-AVC.

Em meio à frustração, a memória de seu mentor emergiu com força. Rossi se lembrou vividamente de uma época em que ajudava um Erickson já idoso e fragilizado a sair de sua cadeira de rodas, e da “satisfação sombria” com que Erickson compartilhava histórias de sua própria e implacável auto-reabilitação. “A vida”, explicava Erickson, “é um processo contínuo de reabilitação. Cada momento em que você escolhe trabalhar alegre e criativamente com sua deficiência, em vez de reclamar, literalmente te dá um impulso”.

Essa filosofia tornou-se o guia de Rossi. Ele rebatizou o famoso princípio de “utilização” de Erickson como “O Caminho do Sintoma para a Iluminação”, vendo seus próprios déficits não como falhas, mas como o próprio caminho para a cura física e o desenvolvimento psicológico.

Foi então que sua mente inconsciente, o reservatório de recursos criativos que Erickson tanto valorizava, começou a se comunicar através de sonhos. Em um sonho, um acidente de carro em uma rodovia simbolizou a fraqueza em seu lado direito do corpo. Em outro, mais poderoso, ele viu um “radar solitário” em uma planície desolada, tossindo e engasgando antes de começar a girar freneticamente, buscando um sinal no céu.

Rossi entendeu a metáfora instantaneamente: era seu cérebro, danificado, mas não derrotado, ativando-se para buscar a informação necessária para o auto-reparo. Inspirado por essa imagem, ele redobrou seus esforços diários de reabilitação em fala, memória, coordenação e exercícios físicos.

Ele também vivenciou as intensas liberações emocionais que Erickson considerava essenciais para a cura. Súbitas crises de lágrimas quentes não eram vistas como fraqueza, mas como parte do “replay criativo” do trauma, um processo que Rossi acreditava otimizar a cura em um nível profundo, quase genômico.

Através da aplicação desses princípios Ericksonianos — a utilização dos sintomas, a escuta das metáforas do inconsciente e a permissão para a expressão emocional —, a reabilitação de Ernest Rossi se transformou. Ele não estava apenas consertando um corpo danificado; ele estava engajado no que ele mesmo descreveu como o ato de “construir um cérebro melhor”, transformando sua própria calamidade neurológica no mais profundo testemunho do legado de cura de seu mentor.

Fonte: Rossi, E. L. (2009). Gene Expression and Brain Plasticity in Stroke Rehabilitation: A Personal Memoir of Mind-Body Healing Dreams.
Disponível em https://www.ernestrossi.com/ernestrossi/keypapers/PG%20GE%20PB%20Stroke.pdf

Na imagem acima é Ernest Rossi. Fonte: inteligência artificial.

By |2025-09-22T00:40:03-03:00setembro 22nd, 2025|Atualizações|0 Comments

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✔ Psicólogo (CRP 0742591) & Mentor de Desenvolvimento Humano em Empresas ✔ Graduado em Psicologia & Administração de Empresas ✔ Pós-graduado em Neuropsicologia, Neuroliderança, Psicologia (lato sensu) & Mentoria Empresarial ✔ Treinador Comportamental (IFT-SP) 🌱 Especialista em Hipnose Generativa 💚 Psicoterapia Breve