Imagine um jovem de 17 anos, vibrante e cheio de vida, que em questão de dias se vê quase que totalmente paralisado por uma doença neurológica devastadora. Os médicos, com o conhecimento da época, deram-lhe poucas esperanças. Confinado a uma cama, capaz de mover apenas os olhos, ele tinha duas escolhas: aceitar o prognóstico ou iniciar uma jornada improvável de autocura.

Esse jovem era Milton H. Erickson, o futuro psiquiatra que revolucionaria a psicoterapia. O que ele fez naquela cama, usando apenas sua mente, não foi um milagre; foi o nascimento de uma abordagem terapêutica poderosa. Ele começou a acessar o que chamou de “memórias corporais” — lembranças vívidas e detalhadas de como era correr, andar e se mover antes da doença. Ele não estava apenas lembrando; estava reativando as vias neurais adormecidas, ensinando seu cérebro a se reconectar com o corpo.

Essa história real e inspiradora não é apenas sobre a poliomielite de Erickson; é sobre o incrível potencial que existe na conexão mente-corpo. É a prova de que, mesmo após um evento neurológico como um Acidente Vascular Cerebral (AVC), a mente pode se tornar a mais poderosa aliada na reabilitação.

Compreendendo o AVC e o Caminho da Recuperação

O AVC, ou “derrame”, ocorre quando o fluxo de sangue para uma parte do cérebro é interrompido, causando a morte de células neurais. As consequências são únicas para cada pessoa, mas frequentemente incluem desafios visíveis e invisíveis:

• Déficits Motores: Fraqueza ou paralisia de um lado do corpo (hemiparesia), espasticidade (rigidez muscular) e dificuldade de coordenação.
• Déficits Cognitivos: Dificuldades de memória, atenção e funções executivas, que afetam o planejamento e a resolução de problemas.
• Sequelas Psicológicas: O impacto emocional é imenso. Ansiedade, frustração e, notavelmente, a depressão pós-AVC afetam cerca de um terço dos sobreviventes, tornando-se barreiras significativas para a motivação e o engajamento na reabilitação.

No centro de toda a recuperação está um conceito luminoso da neurociência: a neuroplasticidade. Essa é a capacidade inerente do cérebro de se reorganizar, criar novas conexões e recrutar redes neurais alternativas para compensar as áreas danificadas. A reabilitação não é sobre “consertar” o que foi perdido, mas sobre guiar ativamente esse processo de “religação” do cérebro.

Hipnose Generativa: Unindo o Legado de Erickson ao Potencial do Generative Trance

Esqueça os pêndulos e o controle mental do cinema. A abordagem que utilizo é uma jornada colaborativa e profundamente respeitosa para o interior da mente do paciente, e ela se baseia na fusão de duas das mais poderosas linhagens da psicoterapia moderna.

A base do meu trabalho está na Hipnose Ericksoniana, a revolução iniciada por Milton H. Erickson. Ele nos ensinou que a hipnose é um estado natural de atenção focada e que a mente inconsciente é um vasto reservatório de recursos, aprendizados e soluções criativas, não um baú de problemas.

Como a Hipnose Generativa Pode Apoiar a Reabilitação Pós-AVC?

A abordagem atua de forma sinérgica em duas vias: a psicológica, que remove os “freios” da recuperação, e a neurofisiológica, que pressiona o “acelerador” da neuroplasticidade.

1. Para o Paciente e a Família: Aplicações Práticas

• Redespertando o Movimento e Superando o “Não Uso Aprendido”: Muitas vezes, após um AVC, a frustração inicial de tentar mover um membro e não conseguir leva a um fenômeno chamado “não uso aprendido”. A pessoa, inconscientemente, “desiste” de tentar e passa a depender exclusivamente do lado não afetado. A Hipnose Generativa ajuda a quebrar esse ciclo através de técnicas como:
  • Revivificação: Guiar a pessoa a acessar as memórias sensoriais e motoras de antes do AVC, “lembrando” o cérebro de como era realizar movimentos de forma fluida e automática.
  • Ensaio Mental (Imagética Motora): Orientar a prática mental vívida dos movimentos desejados. Este processo não é passivo; ele ativa as mesmas áreas corticais motoras que seriam usadas no movimento físico real, promovendo a reorganização neural. Em um famoso estudo de caso, um músico com hemiplegia recuperou a função a ponto de voltar a tocar seu saxofone, uma tarefa que exige um controle motor extremamente fino.
• Navegando a Montanha-Russa Emocional: A hipnose é uma ferramenta poderosa para modular respostas emocionais. Ela ajuda a reduzir a ansiedade sobre o futuro, a lidar com a frustração e a transformar a depressão, criando um estado mental positivo que é um dos fatores mais importantes para o sucesso da reabilitação.

2. Para a Comunidade Médica: Mecanismos e Evidências Científicas

A eficácia da hipnose na reabilitação neurológica não é baseada em achismos, mas sim em evidências neurobiológicas observáveis.

• Evidências de Neuroimagem (fMRI): Um estudo crucial conduzido por Diamond (2004) utilizou Ressonância Magnética funcional (fMRI) para observar o cérebro de pacientes crônicos de AVC antes e depois de sessões de hipnose. Os resultados foram notáveis:
  • Todos os pacientes relataram melhora e cinco dos seis mostraram mudanças mensuráveis na função motora (força, amplitude de movimento, redução da espasticidade).
  • As imagens de fMRI forneceram a corroboração objetiva: observou-se um aumento significativo na ativação do córtex sensório-motor e, crucialmente, uma mudança na lateralização do controle cerebral para o movimento do membro afetado.
• Conclusão dos Estudos: Essas descobertas demonstram que a sugestão hipnótica e o ensaio mental podem induzir ativamente a reorganização cortical e mudanças neuroplásticas no cérebro de sobreviventes de AVC. A intervenção não é um mero efeito placebo; ela catalisa os mesmos processos biológicos que a reabilitação física busca ativar.
• A Ciência por Trás da Transformação
  • Hypnosis for rehabilitation after stroke: six case studies
    Este artigo utilizou Ressonância Magnética funcional (fMRI) para demonstrar um aumento mensurável na ativação do córtex sensório-motor e uma reorganização do controle cerebral após a intervenção com hipnose em pacientes crônicos de AVC.
    Link: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00207140600688688
  • Pushing the limits of recovery: Hypnotherapy with a stroke patient
    Documenta o caso de um saxofonista com hemiplegia que, através da hipnoterapia focada em imagética motora e revivificação, recuperou a função a ponto de voltar a tocar seu instrumento, uma tarefa que exige controle motor extremamente fino.
    Link: https://www.researchgate.net/publication/20434537_Pushing_the_limits_of_recovery_Hypnotherapy_with_a_stroke_patient
  • The use of Hypnosis in the rehabilitation of patients with stroke
    Oferece um resumo acessível das pesquisas, discute os mecanismos de ação (psicológicos e neurofisiológicos) e consolida o racional para o uso da hipnose como uma ferramenta complementar e eficaz na reabilitação pós-AVC.
    Link: https://www.ishhypnosis.org/the-use-of-hypnosis-in-the-rehabilitation-of-patients-with-stroke/

Hipnose Generativa: Uma Parceria na Jornada de Transformação

Como Psicólogo especialista em Hipnose Generativa e Generative Trance, meu trabalho é focado em facilitar processos de transformação profunda.

Embora minha prática clínica abranja uma vasta gama de desafios emocionais e comportamentais, os princípios fundamentais da Hipnose Generativa são universais e diretamente aplicáveis à reabilitação neurológica. As mesmas técnicas de ensaio mental, acesso a recursos internos, regulação emocional e reestruturação de padrões mentais que a ciência aponta como eficazes para a recuperação pós-AVC são o cerne da minha atuação.

Minha abordagem é uma parceria entre Terapeuta e Paciente, trabalhamos juntos, de forma totalmente personalizada, para:

• Aceitar e Utilizar a Realidade Atual: Usamos o que está presente — limitações, frustrações, pequenos sucessos — como matéria-prima para a mudança.
• Criar um Clima para a Mudança: O objetivo não é “forçar” a recuperação, mas sim criar um estado interno ideal onde a neuroplasticidade possa florescer.
• Foco na Pessoa, não na Doença: O Paciente é muito mais do que um diagnóstico. Focamos em reconectar a Pessoa com sua identidade, seus valores e sua capacidade inata de cura e adaptação.

Endereço

Praça Osvaldo Cruz, 15 – Edifício Coliseu
Centro Histórico – Porto Alegre/RS

Existem diversos estacionamentos ao lado do prédio,
na Rua Comendador Manoel Pereira
Centro Histórico, Porto Alegre/RS

Obs: As consultas necessitam ser previamente agendadas.